Além de ser o responsável pela criação dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Pierre de Coubertin também desenvolveu diferentes facetas ao longo de sua vida, as quais lhe ajudaram a moldar o homem que é lembrado até os dias atuais. Nesta data em que se completam 160 anos do seu nascimento, conheça suas principais facetas.
Organizador
Ademais de desenvolver diversos projetos e ideias, Coubertin foi um homem de atitude, era o principal organizador das iniciativas que mentalizava – as quais se resumem muito além dos Jogos -, entre alguns dos principais eventos que organizou está a criação do Comitê para a Propagação de Exercícios Físicos na Educação, com o intuito de seguir as tradições britânicas e implementar uma cultura de exercícios físicos na França. Durante seu mandato de presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Coubertin também foi o principal organizador das sessões do COI e dos Congressos Olímpicos. Vale destacar também a fundação do Instituto Olímpico de Lausanne, organizando um programa de encontros esportivos.
Pedagogo
Desde sua infância, o Barão costumava utilizar seu tempo lendo, dedicar-se a novos conhecimentos e aventuras. Aos 13 anos, após a leitura do livro “Tom Brown’s School Days”, do escritor inglês Thomas Arnold, acaba descobrindo uma forma de educação totalmente diferente da adotada pela França. O livro introduz o método Le Play, que procura fazer o aluno aprender sua própria riqueza humana, ensiná-lo a viver como homem para que possa se integrar em uma sociedade de forma decente.
Quando adulto, Pierre de Coubertin resolveu viajar por diferentes locais de cultura britânica, ele se encantou com a forma de educação que misturava o aprendizado cognitivo através das aulas, leituras e estudos, com o aprendizado motor, através dos esportes que eram ensinados em conjunto. Na Inglaterra, o Barão se fascinou ao descobrir que a educação tinha muito a influência de Thomas Arnold, que era diretor da Rugby School.
Após todas essas experiências, Coubertin sentiu que precisaria mudar o rumo da educação francesa, pois segundo o próprio, os estudantes franceses estavam “presos em uma jaula” tendo que seguir normas e comportamentos que não condiziam com o seu valor, e pretendia usar do esporte como uma ferramenta de mudança para o sistema de ensino do seu país. Para ele, a França necessitava de uma reforma educacional, principalmente depois da Guerra Franco-Prussiana.
“Como faremos com nossos estudantes? Eles gostam do esporte? Estão ao menos dispostos a gostar dele? Todos têm, sem dúvida, algum desejo […] não ireis me dizer que quanto mais se pratica um esporte, mas fácil resulta; a verdade é o contrário, pois o aperfeiçoamento muscular tem limites muito distantes e alguém tende para eles sem os alcançar”, refletiu Coubertin sobre o tema.
Esportista
Pierre de Coubertin foi um grande entusiasta do esporte, não apenas como um espectador, mas também um praticante assíduo, o que ajudou na construção de sua personalidade e, consequentemente, em seus ideais que levaram ao retorno dos Jogos Olímpicos Modernos. De acordo com Coubertin, o esporte é a ferramenta de mais valor para o ensino dos jovens, formando adolescentes mais desenvolvidos moralmente e fisicamente
Seus esportes mais praticados eram natação, hipismo, boxe, ciclismo, remo e esgrima. O boxe era o esporte que melhor desenvolvia fisicamente o ser humano, ao lado da esgrima: “Boxear não é instintivo. Tentem dar um direto ou um pontapé; se nunca tiveram uma lição comprovarão não somente sua torpeza, mas também a ineficácia do seu esforço que se desviará ou se amortecerá por si mesmo“, falou.
“O hipismo é considerado uma vitória tanto do cavalo por ter conquistado o homem, quanto o homem em conquistar a amizade do cavalo, que é um animal conhecido por ser fisicamente potente, forte, alto e veloz“, segundo Coubertin. De acordo com ele, todo jovem deveria ter a experiência de montar em um cavalo: “A conquista mais nobre que já fez o cavalo é o homem. Ela remonta a muito tempo atrás. Vejo nela a própria origem do esporte. Porque o esporte, não esqueçamos, não é natural ao homem […] o cavalo dobra nossa estatura, nossa força e nossa velocidade”.
Olímpico
Pierre de Coubertin além de ser um homem de muitas ideias, era também o responsável por as colocar em prática, e os Jogos Olímpicos Modernos são a prova disso – e Coubertin o reviveu justamente para resgatar o ideal esportivo, uma maneira de propagar seu sistema educacional a nível internacional.
No ano de 1894 enviou pela França uma circular pelo Congresso Atlético Internacional de Paris: “O restabelecimento dos Jogos Olímpicos, em bases e condições que mantem as necessidades da vida moderna, uniriam os representantes das nações do mundo a cada quatro anos, e se pode acreditar que essas competições pacíficas e cavalheirescas constituiriam a melhor forma de internacionalismo”, dizia o documento. De início não obteve tanto apoio, porém graças à sua persistência e vontade, continuou fazendo e enviando cartas, o que fez com que ganhasse aliados em seu objetivo.
O esforço de Pierre de Coubertin foi tão grande que no final foi recompensado. Entre os dias 16 a 24 de junho de 1894 foram realizadas sessões no auditório de Sorbonne, na Conferência Internacional de Paris, para o restabelecimento dos Jogos Olímpicos. Reuniram-se 79 delegados que estavam representando Inglaterra, Austrália, Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Irlanda, Itália, Holanda, Rússia, Suécia e 49 sociedades, para definir o retorno oficial dos Jogos Olímpicos. Neste dia, não só foram criados os Jogos Olímpicos da Era Moderna, mas também teve a criação de um Comitê Olímpico Internacional, que ficaria responsável por organizar os Jogos Olímpicos, mostrando que Coubertin pensou em vários detalhes para este feito.
Para o retorno dos Jogos, Coubertin elegeu os princípios: “Para os Jogos Olímpicos, me seguiam simplesmente sem discutir. Fiz votar sucessivamente os princípios fundamentais previamente ditados em meu espírito: o intervalo de quatro anos, o caráter exclusivamente moderno das competições, enfim a nomeação de um Comitê Internacional permanente em seu princípio e estável em sua composição, cujos membros seriam os representantes do Olimpismo em seus respectivos países”.
Jornalista e Historiador
Coubertin gostava muito de ler, principalmente conteúdos relacionados ao esporte e à educação, mas além de leitura, era também um grande escritor. Ao longo de sua carreira foram 1300 artigos escritos de 1886 a 1937 em 70 jornais e publicações, seus registros estão presentes em livros, periódicos, artigos, crônicas e relatórios. Coubertin também era em sua maioria, o editor-chefe de suas publicações, sendo as vezes um colaborador geral de suas matérias, se mostrando assim um jornalista bastante profissional.
Tanto o jornal impresso como a própria imprensa foram cruciais para Pierre de Coubertin expandir suas ideias e conseguir alcançar o máximo possível de pessoas, principalmente os jovens. Por isso, em 1935, logo após renunciar a presidência do COI, foi convidado para dar um discurso intitulado: “Os Fundamentos do Olimpismo Moderno”, nele o francês deixa o seu testamento Olímpico: “Para que cem se dediquem à cultura física, é preciso que cinquenta pratiquem esporte; para que cinquenta pratiquem esporte, é necessário que vinte se especializem; e para que vinte se especializem, é preciso que cinco sejam capazes de proezas extraordinárias […] por isso, se lhes tem dado esta divisa: Citius, Altius, Fortius; mais rápido, mais alto, mais forte. É a divisa daqueles que ousam bater recordes”.
Escritor
Coubertin tinha uma paixão pela escrita, que o levou a se destacar no âmbito do jornalismo e da história. Um caso curioso envolvendo uma de suas obras aconteceu em 1912, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo na Suécia, onde foi realizado um concurso literário e artístico, em que o francês participou com o pseudônimo de Georges Hohrod e M. Eschbach, e acabou ganhando a Medalha Olímpica de ouro, com um poema intitulado: “Ode ao Esporte”.
“Oh, esporte, tu és Justiça! A equidade perfeita, perseguida em vão pelos homens em suas instituições sociais, se estabelece ao teu redor. Ninguém poderia ultrapassar em um só centímetro a altura que podes saltar, em um só minuto o tempo que podes correr. Suas forças físicas e morais combinadas, determinam por si só o limite de seu triunfo”. Este trecho do poema enfatiza um dos ideais de Coubertin, que destaca o esporte enquanto a oportunidade de uma prática igualitária.
Esteta
“Se alguém tivesse que definir a arte a partir do único ponto de vista de seu papel na educação, diria que, acima de tudo, é o sentimento de beleza. Acordar nas jovens almas o sentido da beleza, é trabalhar em embelezar suas vidas e aperfeiçoar suas vidas sociais”, comentou Pierre de Coubertin sobre o tema. Ele idealizava que toda obra sua tivesse uma estética agradável, e essa foi uma das heranças deixadas pelo seu pai Charles Fredy de Coubertin, que era pintor e respirava a arte. Coubertin, quando criança, também tinha um gosto voltado para a música, tocando piano pela rua Oudinot.
Esse detalhe estético Coubertin acabou levando também para os Jogos Olímpicos, se preocupou que o megaevento fizesse sucesso, mas ao mesmo tempo fosse algo bonito de se ver, não só nas cerimônias e em suas cores, mas também na filosofia do Movimento Olímpico, conforme citou: “A ideia Olímpica é a meu ver, a concepção de uma cultura muscular avançada, apoiada, por um lado, no espírito cavalheiresco que vocês tão graciosamente chamam de fair play, e por outro, na noção estética, no culto ao que é belo e gracioso”.
Humanista
As relações humanas foram um dos motivos de Coubertin reviver os Jogos Olímpicos, alcançar a paz, o bom convívio entre pessoas de diferentes crenças e culturas com a Trégua Olímpica. Suas metodologias de ensino sempre estiveram envoltas de valores. Até mesmo quando precisou se ausentar do cargo de presidente do Comitê Olímpico Internacional para servir a França na 1ª Guerra Mundial não o fez desistir de alcançar a paz mundial, sempre se segurou na ideia de que o esporte é uma das ferramentas mais importantes para o aprendizado e para a paz: “Os esportes são bons para todos e em todas as circunstâncias. Não farão do animal um anjo, mas sempre existe a possibilidade de que atenuem sua brutalidade e lhe outorguem um pouco mais de autocontrole. E isso já é alguma coisa”.